A Psicanálise e o adolescente

Se enxergar na sociedade atual e ser enxergado é um desafio constante que exige do adolescente uma posição madura e assertiva diante dos embates enfrentados. Costumo dizer que “os filhos são os sintomas direto das enfermidades psíquicas dos pais”, parece agressivo esta afirmação, mas em minha prática em consultório, a cada dia vejo o processo de transferência de responsabilidades aos filhos e a interiorização destas responsabilidades aos mesmos de forma equivocada. Ser sintoma das doenças de nossos responsáveis diretos nos faz refletir o nosso correto papel de pai e mãe e em nossa influência direta sobre os relacionamentos na vida de nossas crianças, adolescentes e até mesmo na vida dos adultos que convivem conosco.
O verdadeiro dilema de um adolescente, além de sua psicobiografia infantil – forma de enxergar o mundo, não está baseado somente na questão “do que é a crueldade no mundo”, e sim, “quem Eu sou” neste mundo tão dinâmico, competitivo, favorável a cultura da beleza e totalmente mutável. De acordo com as respostas que recebe de diversos convívios sociais, como exemplo, a família, os parentes, a escola, grupos de amigos, grupos de religião, universo on-line (redes sociais) e outros, o adolescente se perde em possibilidades existenciais (dificuldade na identificação sexual correta, o não desejo de seguir alguma profissão, o desinteresse em diversas áreas e outros assuntos que se tornam complexos), acreditando e criando um “mundo de fantasia” diante a tantas possibilidades. Além disto, vivenciando este novo momento de existência (nem adulto e nem criança) o adolescente percebe todo o peso das contradições dos “discursos dos adultos”, onde já não é enganado pelos mesmos em “histórinhas”.
É na adolescência que o vínculo parental é desestruturado e um novo mundo de possibilidades se abre frente ao novo “Ser”. Nesta etapa da vida é natural os grandes conflitos parentais, rebeldias sem causa, abertura de novos experimentos sexuais, falta de comunicação real e direta com os pais e um afastamento familiar não costumeiro. Cabe também aos pais desenvolverem a capacidade de entenderem este novo processo na vida de seus filhos (pois também já passaram por esta mesma fase, mesmo em outra geração de valores e crenças sociais), aprenderem a se comunicar de forma correta com seus adolescentes e aceitarem de forma não tão severa os erros que os mesmos cometem na tentativa de acertarem. Talvez até proporcionar uma certa “emancipação assistida” devido a evolução humana e o rápido processo de informação através do universo online.
A imaturidade faz parte da adolescência e é algo muito importante no processo de criação de idéias e pensamentos, são através dos erros e acertos que se constrói o novo viver. São através de pensamentos excitantes e criativos que o diferente se estabelece. Ame mais o adolescente e a sua imagem não lhes permita crescer e atingir uma falsa maturidade, transmitindo-lhes uma responsabilidade que ainda não é deles, mesmo que possam lutar por elas, afirma Winnicott. É importante lembrarmos que em sentido sociológico a adolescência deve ser considerada uma noção inventada no século XIX, pois, antes disto o termo utilizado era juventude, período de transição para a maturidade.
Estas e outras questões sobre adolescência são de cunho extremamente pessoal e individual, estamos à disposição para lhe atender.
Eduardo Nogueira
Psicanalista

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